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Sobre o dia do professor (15 de outubro)

Sou professor, acima de tudo, porque sempre quis ser.


Não há nada mais bonito que dedicar uma vida a aprender e socializar o conhecimento. Tamanha a sua importância, o conhecimento desafia as leis da matemática – ao dividir-se, multiplica-se, soma-se.


Comecei minha carreira de professor, ainda que de forma embrionária, aos dezesseis anos, dando banca de física e biologia, de graça, aos conhecidos. Aos dezenove, passei a ensinar violão, sobretudo para crianças, recebendo muito pouco para isso. Aos vinte e dois, fui monitor de Direito Penal na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Depois de formado, já lecionei Direito Processual Penal, Direito Penal, Prática Penal, Direito Civil e Direito Processual Civil, tateando a disciplinas, à procura daquilo que mais me deixasse mais feliz. Foi aí que conheci o Processo Coletivo e o Processo Constitucional. Percebendo as minhas limitações – a impossibilidade física e material de abraçar o mundo -, foquei no estudo do Direito Processual Civil, em especial dessas duas disciplinas, minha especialidade atual. Desenvolvi o mestrado na área (Processo Coletivo) e hoje dedico-me ao Processo Civil, numa linha constitucionalista, à luz da análise econômica do Direito.


Ser professor é o máximo. É ter sede de conhecer e de repassar. É entrar numa biblioteca, ficar horas e sentir-se pequeno, mas grandiosamente cheio de vontades. Quando há paixão, lecionar o mesmo a assunto a duas ou três turmas é tão prazeroso quanto ouvir “Terra”, de Caetano, por duas ou três vezes seguidas. Por que não quatro?


Ainda iniciante, considero-me um (pequeno) professor (já) não muito ortodoxo: tento, incessantemente, misturar o ensino jurídico com as mais variadas áreas do conhecimento: economia, física, artes - sem desprender-me do valor da utilidade. Da aplicação da teoria dos jogos no âmbito das relações processuais ao reconhecimento da superioridade de Pareto na fruição dos direitos fundamentais, sou fascinado por todo tipo de alquimia - desde que agregue, some, sirva a algo. Na arte, procuro a renovação/desconstrução da metodologia científica e das relações entre os agentes do Direito (a tropicália jurídica!).


Tive a felicidade de encontrar, na minha Bahia, grandes exemplos de professores, que me servem de norte. No Direito, além do encanto pelo gigante Calmon de Passos, mestre maior, tive a honra de ser aluno de Didier, Gidi, Pamplona, Casali, Nilza. Com eles (e muitos outros), percebi que o Direito não é apenas ideia – não se resume a classificações inúteis e sem fim. Ele serve à solução concreta dos mais variados problemas que existem no país – problemas de João, Maria e milhões de Josés; de conglomerados econômicos, índios e quilombolas (“Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos...”, disse Drummond).


Reconheço, ainda, que muitos(!) de meus maiores professores foram colegas dentro e fora de sala. Tirei a sorte grande de estar sempre cercado de pessoas geniais, fascinantes. Esses são os que mais me ensinam hoje: meus amigos. Sinto-me confortavelmente pequeno do lado deles, que me forçam a crescer, querer mais.


O dia do professor é, acima de tudo, o dia do amigo. Quem ensina deve querer sempre o melhor dos outros. Quem aprende é escravizado: leva consigo a deferência eterna aos verdadeiros mestres.


Feliz dia do professor, amigo.


“Por mais distante o errante navegante, quem jamais te esqueceria?”.


João Paulo Lordelo


Em 18 de outubro de 2014, cruzando o céu do Rio de Janeiro para Brasília, atrás de Rosa.

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